sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A menina do cabelo cheio

Era uma vez uma menina, uma moça! Essa menina era diferente da maioria das meninas de sua rua, seu bairro, sua cidade. O que ela tinha de diferente? Ah... muitas coisas... Porém, a mais notável era o seu cabelo. Sim, o cabelo mesmo! Mas para entender seu cabelo é preciso ir além, muito além desse detalhe. Pra começar, essa menina era negra. Algumas pessoas insistiam em lhe dizer que ela era morena clara, mas ela explicava que essa raça não existia. Fazia questão de dizer que era negra e representar bem sua raça onde estivesse e para isso usava os instrumentos que possuía.
Os gostos dessa menina não eram tão comuns no meio onde vivia e ela nem se importava mais em ser daquele jeito e gostar do que gostava. Tinha orgulho de tudo que fazia parte de suas origens. A menina que gostava de ciranda, jongo, samba, congado e maracatu tinha muitos sonhos, o principal era ver todas as pessoas serem tratadas de forma igual, sem discriminação.
Os cabelos da menina eram crespos e só de ela falar assim alguns já achavam estranho. Seus cabelos eram castanhos. As pontas eram mais claras, em tons de amarelo. O sol que ela tanto gostava oxigenava o seu cabelo naturalmente. Ao contrário da maioria das meninas que conhecia, ela não gostava de alisar o cabelo. Gostava dele bem cacheado e não se cansava de cuidar para que ele se tornasse ainda mais. Os fios de cabelo dessa menina formavam em conjunto uma cabeleira volumosa e moldavam seu rosto. Quando ela ia ao salão de beleza muitas vezes ouvia das cabeleireiras que o corte que queria ia dar muito volume ao cabelo. Demorou para ela convencer a todas que ela gostava daquele jeito.
Quando ela passeava pelas ruas da cidade causava reações diversas nas pessoas que a reparavam. Ouvia muitos comentários: “Olha lá o famoso black power”, “Quanto cabelo hein, quanto volume!”, “Você viu aquela menina de cabelo cheio?”, “Cabelão”. A menina ouvia os comentários e achava graça, balança seus cachos e continuava a caminhar sorrindo. No inicio ela se perguntava por que seu cabelo chamava tanta atenção, afinal essa era a natureza deles, era pra ser uma coisa normal. Depois de um tempo ela entendeu que o fato de não haver muita gente com o cabelo igual ao dela causava tal estranhamento nas pessoas. Para ela não importavam as incansáveis propagandas com mulheres balançando seus longos e lisos cabelos, estava muito feliz com os seus cabelos crespos e curtos. Quando alguém perguntava por que ela deixava o cabelo daquele jeito ela respondia: “Eu gosto do jeito que sou e não quero nunca passar uma imagem forçada daquilo que não está em mim”.
O maior desejo dessa menina era que as pessoas entendessem as diferenças entre os seres humanos e principalmente as aceitassem. Assim, minimamente não achariam tão estranho ver cabelos como os dela, talvez assim até houvesse mais exemplares nas ruas. Aí não diriam mais que o cabelo dela era cheio e sim que era crespo!
Aquela menina sabia o que queria e representava dentro de um grupo e torcia para que todas as pessoas soubessem também. Enquanto isso não acontecia ou acontecia a passos lentos e pequenos, a menina, a moça do cabelo cheio continuava a levar sua vida, sorrindo e cantarolando, sempre tentando fazer algo bom para o mundo.

4 comentários:

  1. Olhaaa!!
    esperei pra ver isso aqui viu! =D
    e que surpresa booooua que eu to tendo!
    E que coisa boooua ver esse texto lindo aqui tb!
    Moça.... vc tem um talento muito especial, cultive ele, guarda com carinho, melhor.... não guarda não, mostra ele pra gente como vc mostrou aqui agora menina do cabelo cheio!!!

    um beijo imeeeeenso pra essa menina do cabelo cheio!!

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  2. "A verdade é que você
    (Todo brasileiro tem!)
    Tem sangue crioulo
    Tem cabelo duro
    Sarará, sarará
    Sarará, sarará
    Sarará crioulo..."


    é lindo seu cabelo.

    beijooos queridaaa!!!

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  3. Você é felizarda por ter em si tamanha auto-aceitação!
    Te admirei e cultivarei com mais empenho este sentimento.
    Às vezes a minha auto-estima dependende da aprovação dos outros. Isso é muito triste e doentio.
    Pessoas como você são extremamente importantes para espalhar o sentimento de auto-aceitação.

    Vou te contar...gosto do meu cabelo cheio. Mas num dia de extrema ansiedade, me sentindo deslocada, carente e insegura...fui num salão de beleza pra aparar as pontas, hidratar...e sentenciaram: SEU CABELO NÃO TEM JEITO! Tem muito volume, vamos tentar arrumar...confie!
    E assim alisaram meu cabelo.
    Quié..?
    Disseram que era apenas para soltar os cachos...diminuir o volume.

    Chorei, sofri e esperei crescer um pouquinho...aí cortei tuuudooo. Agora é esperar crescer e cachear de novo, ainda bem que cresce.

    Obrigada pelo texto, muuuito bom de ler!

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  4. Menina Linda, quando eu crescer quero ter o cabelo igual o teu. (sorriso) Na verdade, quero logo, nem sei se cresço mais.
    Quero muito esse "black power", mas tenho um certo medo. Meu cabelo além de ser um bocado crepo, é muito rebelde e demora a crescer. Eu queria cortar ele pra dar volume, mas pode ser que eu precise, principalmente no começo, tratar muito ele e tal, dai estamos sem grana pra isso, por enquanto. Mas ainda terei meus cabelos do jeito que gosto, de um jeito que é meu. :)

    Me identifiquei com o texto. Muito.
    Com o fato de ter gostos diferentes e gostar disso. Porque na minha sala de aula, no meio de umas 30 meninas eu sou a unica que tem cachinhos. Porque eu gosto de vestir um saião, rodar, sambar, sorrir e soltar os cachos. Eu, simplesmente me vi nas tuas palavras. Obg por isso.

    Abraço :)

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